Burak Öymen: A vida em comunidade na Turquia

Quando a utopia se materializa, a realidade tem uma forma peculiar de mudar de rumo, e o mundo volta a olhar com benevolência para as sociedades alternativas. Visto de cima, Kaplankaya parece ter sido criado à imagem da lenda do El Dorado - um lugar secreto, quase sagrado, tão exclusivo que se torna praticamente inacessível. No entanto, ao desembarcar numa das sete praias do empreendimento, o sentimento de pertença é praticamente instantâneo, mesmo para aqueles cuja carteira não tem espessura suficiente para adquirir uma moradia à venda neste paraíso chamado Kaplankaya. O criador do local - e simultaneamente seu guardião, mentor e rosto público - define o tom do lugar, estabelecendo os seus valores genuínos e garantindo que continua a ser um espaço rico em tudo aquilo que o dinheiro não pode comprar.

OS PRIMEIROS ANOS

Nascido em Ancara, capital da Turquia, filho de pais diplomatas, Burak Öymen cresceu entre Chipre, Madrid e Copenhaga. Estudou negócios internacionais na Universidade de Filadélfia e vive entre o Mónaco e Praga com a sua esposa, a ex-modelo checa Tereza Maxová.

(Imortalizada na lendária capa da Condé Nast Traveller de 1997, onde aparece numa piscina com um elefante, Tereza dirige também uma fundação com o seu nome, dedicada a apoiar cerca de 24.000 crianças abandonadas na República Checa.) O casal tem três filhos, com 19, 11 e 8 anos. Promotor imobiliário que transformou os horizontes de várias das denominadas "cidades da CEI", incluindo Baku, Tbilisi, Astana e Kiev, Öymen escolheu o coração da Riviera Turca para construir um refúgio, cuja escala e espírito contrastam completamente com tudo o que construiu anteriormente.

"Em todo o mundo, não existem sequer 20 projetos como este, o que me faz acreditar na sua força e singularidade", afirma. "A ideia era criar uma pequena cidade, planeada de forma responsável e ambientalmente sustentável, que atingirá a maturidade dentro de aproximadamente 20 anos. Mais do que um projeto imobiliário, é um estilo de vida."

Um projeto para a eternidade

O projeto, situado a apenas alguns quilómetros de locais históricos como o Templo de Apolo e as ruínas de Éfeso, transformou um terreno rochoso à beira-mar num complexo constituído por 156 moradias; com uma futura marina - prevista para 2020 - projetada pelo célebre arquiteto Norman Foster; um hotel Six Senses; três restaurantes, incluindo um italiano e um turco (ambos, não se preocupe, com abundantes opções cruas e vegan); e um clube de praia gerido pelo K-Studio, responsável pelo Scorpios, um dos bares mais trendy de Mykonos. (Com preços entre 690.000 e 1,3 milhões de euros, metade das moradias do projeto já foram vendidas.)

"Espero que, daqui a 50 ou 100 anos, as pessoas olhem para o que construímos aqui e vejam que é intemporal", afirmou Öymen.

O seu objetivo era criar uma comunidade que preservasse os melhores aspetos da cultura hippie. E, a julgar pela presença de nómadas digitais na casa dos 40 anos que gerem as suas startups a partir de bungalows à beira-mar e relaxam com uma sessão de hammam antes do jantar, Öymen alcançou o seu objetivo. "Todos partilham a mesma mentalidade - todos valorizam as experiências como o património mais valioso - independentemente do que fazem ou do que têm", diz Öymen, acrescentando: "claro que, para ter tudo isto, é necessário ter atingido um certo nível de estabilidade financeira. Não sou ingénuo." Ele recebe no seu reino privado aqueles que partilham os valores da vida em comunidade e da discrição: Graças ao ambiente criado por Öymen e pela sua esposa, o ambiente é decididamente discreto.

"Medimos o sucesso pela felicidade e pela paz interior - sentimentos que surgem quando protegemos um lugar de tal forma que a nossa memória afetiva é ativada sempre que lá estamos - onde quer que esse lugar seja", afirma. "O desafio é projetarmos este mesmo espírito no futuro para que, quando os nossos filhos forem adultos, encontrem aqui os mesmos valores que conheceram em crianças."

Construir Destinos para Partilhar

Aos 45 anos, o magnata imobiliário é o exemplo perfeito de uma nova geração da elite global que abandonou os hábitos de consumo tradicionais focados em ostentar as suas aquisições e, em vez disso, partiu em busca de um lugar - não para chamar de seu, mas para partilhar o melhor que a vida tem para oferecer. "É evidente que existe uma vertente comercial em tudo isto - afinal, trata-se de um projeto multimilionário - mas as questões financeiras não são a força motriz.

Não pensamos como um investidor tradicional, para quem obter o retorno mais rápido é fundamental", afirmou. "Pode demorar 30 ou 50 anos até atingirmos o lucro, mas esse não é o nosso objetivo. Queremos que os viajantes, os exploradores e as pessoas interessantes e interessadas deixem aqui a sua marca, tal como os gregos, os romanos e os otomanos fizeram ao longo dos últimos 2.000 anos." Esta atitude tem originado inúmeras amizades improváveis entre pessoas que, se não tivessem descoberto Kaplankaya, poderiam ter permanecido isoladas nos seus palácios e mansões. A eterna busca por um mundo de sonho parece ter chegado ao fim - ou talvez seja apenas o início de uma nova era